domingo, 24 de agosto de 2008

Tragicrônica em 3 atos

Por Mauren Veras

1º ato – Quarta-feira, 11 de junho. Em função de trabalho eu tive que ir ao centro de Porto Alegre fazer uma “ação” que tinha a intenção de viralizar na Internet. A idéia era “disponibilizar” uma moça bonita para dançar coladinho com quem quer que passasse pelo centro e estivesse disponível para tal. Montamos um pequeno circo: um cartaz dizia “Especial Dia dos Namors (assim bem portoalegrês) – Dance coladinho e não fique sozinho”. Colocamos um aparelho com CD-Player tocando músicas românticas de Fábio Júnior a Fagner e a moça bonita de saia curta sentada numa cadeira de palha esperando os “cavalheiros”. Muitos curiosos perguntavam o que era tudo aquilo. Justificávamos que era uma ação para “proporcionar mais carinho e conforto aos solitários neste vindouro dia dos namorados”. Tanto solteiros quanto casados toparam a empreitada e tudo foi registrado em câmera mini-dv. Passei a tarde muito engajada naquilo para que de fato desse certo, tívessemos muitos acessos e o devido reconhecimento de que fizemos um ótimo trabalho. O resultado ficou excelente eu realmente acredito que até fizemos algumas pessoas felizes. Fui embora exausta, mas bem satisfeita.

2º ato – Quinta-feira, 12 de junho. O Dia dos Namorados. Na verdade eu sou casada. Digo, amaziada, juntada, vivendo em pecado, diriam os católicos mais ferrenhos. Mas é nosso segundo Dia dos Namorados juntos e iríamos celebrar como de praxe. Só uma pergunta: por que diabos Dia dos Namorados tem que ter letra maiúscula? Enfim, resolvemos ir a um lugarzinho aconchegante cuja temática é toda de Histórias em Quadrinhos, tema que faz parte das cinco coisas mais importantes da minha vida. Antes de chegar ao lugarzinho aconchegante, trocamos presentes no carro. Eu havia comprado pra ele um blusão vermelho, pois ele é colorado. Um blusão bem bonito até. Foi um achado. Comprei nas remarcações da Renner e nem comecei a pagar ainda. Um achado. Ele adorou. Gostou muito mesmo. Um achado. Ele me deu um casaco horrível. Ficou grande, me fez parecer um esquimó. “Adorei, amor”. “Tu pode trocar se quiser, Mau”. “É, ficou um pouco grande, acho que vou trocar sim”. “Tudo bem”. E entramos no lugarzinho aconchegante. Sentamos numa mesa. Não havia muito assunto. Pedimos bruschettas. Muito boas as bruschettas, chegaram bem quentinhas. E o assunto bem morno. Tadinho dele. Ele queria tanto ter dado o presente certo, aquele que eu não ia precisar trocar, que ia usar sempre. Eu tinha certeza que era isso que ele pensava. Daí quis fazer uma pergunta boba, pra descontrair, e larguei essa: “Se tu tivesse dinheiro pra me dar qualquer coisa que tu quisesse, o que tu me daria?” Assim, bem faceirinha. Ele dissertou sobre como é difícil pra ele dar presente pros outros, que dar presentes é muito relativo que blablabla, e fez da resposta uma tempestade. Eu chorei e pedi pra irmos embora. Mas chorei de cantinho que era pra ele não ver. Fomos pra casa. Entramos debaixo das cobertas, ligamos nossos despertadores. Nem um arretinho. O Dia dos Namorados, assim, com letra maiúscula é mesmo super-estimado.

3º ato – Sexta-feira, 13 de junho. O dia passou assim... um cocô. Porque afinal de contas as pessoas super-estimam o Dia dos Namorados com letra maiúscula e eu devia estar toda toda com a pele bem fresca porque certamente tinha rolado um sexo bem gostoso na noite anterior. Nada. À noite, não conversei muito com o marido. Mas vi que ele havia comprado vinho. Óóóó... Eu não ando bebendo por motivos de saúde, mas em virtude das supostas intenções me permiti um cálice. A sexta-feira foi mais carinhosa. A sexta-feira era 13 mas também era dia de Santo Antônio, o casamenteiro. E, ora bolas, eu não tenho namorado. Eu tenho Marido. Dá licença que meu Marido tem letra maiúscula. E afinal de contas, relacionamentos não são como nas novelas nem como nos comerciais de dia dos namorados. E o DR (também conhecido como discutir a relação) foi suave e embebido em vinho suficiente para terminar como devia: tão quente quanto as bruschettas.


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