domingo, 24 de agosto de 2008

A Fuga das Sardinhas

Por Tassia Kastner e Maria Lina Colnaghi

Sardinha é uma fonte de ômega 3, 6. Dizem que faz bem a saúde. Cada vez que lembro disso no mercado, tasco duas no carrinho. Não que seja meu prato preferido. É apenas prático. Ontem fiz uma salada de rúcula com noz pecã e... sardinha. Mas confesso que quase perdi o apetite. Lavei a rúcula com muita atenção, separei em um prato. Peguei meu quebra-nozes e separei as melhores sementes das frutas que tinha. Hora de adicionar a sardinha: lavei a lata com bastante detergente, peguei uma faca para abrir a lata, mesmo sob o olhar nervoso de meu irmão, e logo tinha ao meu alcance dois lindos peixinhos.

Quando vi aqueles animaizinhos tão apertados dentro daquela minúscula lata, lembrei que eu tinha acabado de chegar em casa depois de um longo dia de trabalho. Não percorro longas distâncias com o transporte coletivo, é verdade. O que geralmente me traz grandes problemas e um pouco de tumulto. Todas as linhas que utilizo têm o problema da lotação. E aí, embarco, mal consigo passar pela roleta, e já preciso descer. Mas, quem disse que consigo chegar à porta?

O problema começa no embarque. Geralmente ouço o cobrador gritar: – Um passinho atrás faz favor, ainda têm espaço no fundo. Nunca têm. Mas mesmo assim as sardinhas, digo, os passageiros obedecem, muito contra a vontade e com murmúrios do tipo “que absurdo” ou “acabou o fundo”, à ordem do recolhedor de fichinhas. E assim, a cada parada, a cada barulho de descarga, de pastilhas de freio gastas o pânico toma conta de mim: – Preciso descer! Preciso descer!. E o pior é que não tem pra onde fugir.

Quando embarco no D43 lotado penso: – Bah! Por que não peguei o Campus/Ipiranga? Por quê? Porque a situação é tão desesperadora quanto. Tudo bem, podia pegar o T8! Nãããão, T8 não! Afinal eu não quero chegar no Campus do Vale como um patê. Ninguém gosta de sardinha esmagada! Ipiranga/PUC, T1, T4, T5, T6, T7, T9? Tudo igual.

Pensando bem, não preciso de ômega 3, nem 6. Estudante/trabalhador tem saúde de ferro. De vez em quando até espirra, tosse, mas compartilhar vírus cria anticorpos. Aumenta a imunidade. É, isso faz bem. Tá, vou deixar para pensar nas sardinhas quando não precisar mais da Carris nem obedecer os gritos do recolhedor de fichinhas. Bem, vou dar de comer ao meu gato e, depois, comer minha salada.

Um comentário:

Danilo Borges disse...

Texto muito interessante!!!

Parabéns!