domingo, 24 de agosto de 2008

O frio de viver

Por Gabriela Haas

Três dias atrás a tão anunciada massa de ar polar enfim decidiu dar as caras no estado. As pessoas vigiavam o céu com a certeza de que algo, grande, provavelmente, estava por vir. Eis que, depois intermináveis dias chuvosos, o frio chega mascarado em uma linda manhã, ensolarada e gelada. Na rua, casacos de todas as cores, mas ainda assim com a prevalência dos tons terra e preto. Por que no frio, as pessoas sempre parecem tão iguais? Talvez pela falta de pele à mostra, apenas o rosto e olhe lá.

O frio assusta, muito mais que o calor. Discordo, completamente. E nem me venha com o argumento de que as pessoas morrem de frio porque elas, igualmente, morrem de calor. O frio traz uma alegria tão sutil que nenhum verão conseguirá um dia oferecer. O sol, muito mais brilhante, aquece e dá o contraponto necessário para o vento.

Pela manhã, os rostos rosados estampam olhos arregalados, de frio, de susto, de ansiedade por chegar logo ao seu destino – e que esteja quente! A fumaça saindo da boca diverte as crianças que imitam os maus hábitos de seus adultos inspirando com dois dedos junto à boca e expirando o ar aquecido pelos pulmões (o Ministério da Saúde adverte: crianças começam a fumar vendo os adultos fumando).

Nada, mas nada como, depois de um dia inteiro convivendo com o vento gelado que teima em ultrapassar todas aquelas cinco camadas de roupa e encontrar uma brecha para nos atingir, tomar um banho e sentir cada centímetro do corpo descongelar com a água mais quente que o chuveiro pode oferecer. Vestir a roupa naquela atmosfera de sonho provocada pela abundância de vapor que vai grudando em toda a superfície do banheiro e que leva horas para secar. Praticamente se esconder naquele casacão de lã, puxar uma coberta e ficar assistindo um filme na tevê com alguém que aqueça, além do corpo, o coração.

Ah, não reclamem do frio. Ele pode fazer muito mais por você e nos deixa muito mais cedo do que deveria.

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