Por Pedro Argenti
Imigração não é nenhuma novidade. Nada que tenha aparecido na semana passada, ameaçadoramente, e tenha gerado o pavor dos legisladores de Estrasburgo que aprovaram a deportação a cabresto até das criancinhas ilegais. A imigração é coisa antiga. Imagine você que os primeiros japoneses atracaram no Brasil já faz cem anos. Os portugueses, quinhentos e oito. E antes de todos eles, o que faziam mesmo os hebreus no Egito ou os jônios em Tróia? Note que a Itália de hoje era antes helênica, era Magna Grécia. Note que, dizem alguns cientistas, os homens das Américas chegaram da Rússia pelo Estreito de Bering. Perceba a quantidade de ciganos que existem pelo mundo. Não, definitivamente não foi na semana passada que tudo isso começou.
Meu bisavô podia dizer o que quisesse sobre suas motivações para deixar Verona a caminho do Rio Grande do Sul. “A vida era muito difícil, buscávamos sobrevivência, melhores condições”. Até certa idade eu acreditava, todavia hoje sei que nada resumiu-se a isso. Imigrar é coisa do homem e sua natureza. Vem do desejo, da ânsia de liberdade. A promessa de Canaã não vem de Deus ou do dólar, ela vem do coração. A imigração é tão antiga quanto a expectativa de um lugar redento onde seja possível uma vida plena. Tem a ver com aquilo que queremos do mundo.
Tão somente a pobreza material não leva ninguém a tomar os rumos que os lusos migrantes chamavam de além-mar. É a miséria do espírito, somada com a ânsia do homem pela satisfação, que movia as caravelas e enchia, como bem disse Pessoa, os mares de sal. Até hoje é assim. É nossa desgraça que nos leva embora. Os psicólogos diriam que não há nada de errado, diriam até, quem sabe, que permanecer na pátria revelaria qualquer traço de um complexo de Édipo. Deixar a terra é revoltar-se com o berço, é tentar mudar aquilo a que o destino impávido nos submeteu. Imigrar é renovar, por meio de catarse, é crescer. E isso agora é mau.
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