domingo, 24 de agosto de 2008

Sobrefutebol e política no Brasil

Por Cristiano Muniz & Régis Machado

Ontem, após o empate com a Argentina, em Belo Horizonte, Dunga afirmou não estar preocupado em perder o emprego, pois já teria "a vida resolvida". A torcida, porém, queria a sua cabeça. "Adeus, Dunga", gritavam os espectadores, descontentes com o rendimento da Seleção. O que é perfeitamente compreensível num país em que técnicos são demitidos com uma facilidade espantosa. São raros os treinadores de clubes brasileiros que permanecem longos períodos em seu cargo.

Se assim fosse também na política, as coisas certamente seriam diferentes. Se os eleitores gaúchos fizessem como os torcedores, que clamam pela demissão de técnicos incompetentes, haveria maior mobilização popular pelo impeachment da governadora Yeda, por exemplo. Mas, em política, as regras são diferentes: é muito mais difícil para o cidadão comum expressar seu descontentamento com o poder público. É necessário reunir grandes contingentes de pessoas, realizar manifestações, protestos, atos públicos; apenas grupos organizados como sindicatos e diretórios estudantis têm essa capacidade – um tanto restrita, é verdade – de mobilização.

Por outro lado, no estádio, o torcedor se sente livre para expressar da maneira que quiser sua desaprovação com o comandante da equipe; cobra providências, sugere substituições, critica o técnico: é assim que a torcida age quando o desempenho do time não é o esperado. Na área política, o máximo que se vê são atos isolados, com pequena participação popular. Não existe a consciência, por parte das pessoas, de que devem fiscalizar e cobrar também seus representantes eleitos. Trata-se, portanto, de algo muito mais sério que futebol: afinal, a decisões tomadas no campo político exercem uma influência muito maior na vida das pessoas do que a revolta com o mau resultado no jogo da Seleção.

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